
Semiologia do Sistema
Nervoso
Introdução - Exame Neurológico
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O Exame Neurológico tido por muitos como um exame sofisticado e sobretudo extenso, multas vezes é renegado pelos médicos e estudantes de medicina. No entanto, praticá-lo rotineiramente e de forma objetiva pode tornar a semiologia neurológica uma ferramenta clínica fundamental, podendo antecipar os resultados de exames complementares, acompanhar a evolução clínica do paciente ou até mesmo fornecer o diagnóstico apenas com a semiotécnica. Em função disso, ressaltamos a importância do conhecimento da semiologia neurológica e a apresentamos de forma sucinta nos seguintes vídeos e resumos:
Exame do Estado Mental
Mini Exame do Estado Mental (MEEM)
Teste de rastreamento e avaliação rápida da função cognitiva. Apesar de avaliar vários domínios (orientação espacial, temporal, memória imediata e de evocação, cálculo, linguagem-nomeação, repetição, compreensão, escrita e cópia de desenho), não serve como teste diagnóstico, mas indica funções que precisam ser investigadas. Está validado e adaptado para a população brasileira.

Total de pontos obtidos: ___ / 30
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Avaliação do escore obtido:
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Pontos de corte – MEEM. Brucki et al. (2003)
20 pontos para analfabetos
25 pontos para idosos com um a quatro anos de estudo
26,5 pontos para idosos com cinco a oito anos de estudo
28 pontos para aqueles com 9 a 11 anos de estudo
29 pontos para aqueles com mais de 11 anos de estudo.
Exame de Motricidade e Reflexos
Principais Reflexos
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Reflexo Biciptal: Nervo Musculocutâneo, C5-C6
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Reflexo Triciptal: Nervo Radial, C7
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Reflexo Estilorradial ou Supinador: Nervo Radial, C5-C6
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Reflexo Patelar: Nervo femoral, L2-L4
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Reflexo Aquileu: Nervo isquiático e tibial, S1
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Reflexo Cutâneo-Plantar: Nervo isquiático e tibial, S1
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Reflexo dos flexores dos dedos/Sinal de Hoffmann: Nervos mediano e ulnar, C8-T1
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Principais Dermátomos

Exame Neurológico da Coordenação Motora:
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A função da coordenação motoro está atribuída à integralidade do cerebelo, e sua avaliação permite definir a presença de lesões nos hemisférios cerebelares e no vérmis (central) cerebelar
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Hemisférios cerebelares
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Coordenação no Espaço à Metria
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Teste do índex-nariz (MMSS)
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Teste do índex-índex (MMSS)
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Teste tornozelo-joelho-tíbia (MMII)
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Coordenação no Tempo à Diadococinesia
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Movimentos alternados rápidos
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Alterações (dismetrias ou disdiadococinesia) estão associadas a lesões IPSILATERAIS no cerebelo!
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Vermis cerebelar:
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Estabilidade postural
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Ortostase e marcha
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Lesões podem causar:
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Marcha atáxica (ataxia cerebelar à marcha ebriosa), independente da visão
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Tremor cefálico
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Base alargada
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Dança dos tendões (paciente em ortostase)
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Nistagmo
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Romberg negativo
Exame Neurológico da Motricidade
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Volume, tônus e força muscular são os componentes a serem avaliados quanto à função motora:
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Volume muscular:
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Avalia-se através de:
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Inspeção
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Fita métrica
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Hipertrofia
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Nenhuma enfermidade causa hipertrofia, mas pode ocorrer uma “Hipertrofia relativa” – Miopatias causam atrofia proximal, provocando a impressão de que há uma hipertrofia na região distal!
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Atrofia
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Tônus muscular:
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Avalia-se através de:
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Movimentação passiva
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Hipertonia – aumento do tônus:
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Elástica (espástica) à Sinal do canivete (Sd. Piramidal)
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Plástica à Sinal da roda denteada (Sd. de Parkinson)
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Hipotonia – diminuição do tônus
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Flácida à (Sd. 2º neurônio motor)
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Força muscular:
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Avalia-se através da:
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Movimentação ativa (contra gravidade e contra resistência)
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Manobras: ( manter os membros na posição por 2 min)
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Mingazzini: O paciente é posto em decúbito dorsal, com as coxas e as pernas fletidas em 90º. O teste será positivo se o paciente não conseguir manter a posição, cair ou oscilar. Na perna o déficit é do quadríceps e na coxa o déficit é do psoas
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Barret: semelhante à anterior, mas o paciente é mantido em decúbito ventral
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Manobra dos braços estendidos: paciente é mantido com os braços estendidos


Exame de Coordenação e Marcha

Exame do Sistema Sensitivo
Exame Neurológico da Sensibilidade:
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O exame da função sensitiva é parte essencial do exame neurológico, pois permite somente com esse recurso localizar lesões que podem indicar padrões de doenças específicas (p.ex., polineuropatias com padrão "bota e luva"). Para isso é essencial que o examinador conheça os dermátomos.
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Existem dois tipos de sensibilidade a serem avaliados no exame neurológico:
a) Superficial
b) Profunda
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a) Sensibilidade superficial é transmitida pelo trato espino-talâmico lateral
- Dor
Por meio de um alfinete ou outro instrumento pontiagudo
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- Temperatura
Preencher um tubo de ensaio com água quente/fria tocando-o nos diversos dermátomos
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- Tato leve
Toque leve do algodão ou por meio de um instrumento especial chamado estesiômetro
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b) Sensibilidade profunda permite avaliar a propriocepção consciente a qual é transmitida por meio do funículo posterior da medula (fascículos grácil e cuneiforme)
- Vibração (Palestesia)
Tocar o diapasão nas proeminências ósseas intercalando momentos de vibração com não-vibração
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- Posição (cinético-postural)
Mover articulações e questionar a posição ao paciente ("para cima ou para baixo?")
Romberg: a alteração da sensibilidade cinético-postural leva a uma ataxia sensitiva, mas o paciente compensa o desequilíbrio com a visão. Ao fechar os olhos, essa compensação é perdida e o paciente cai, sem preferência de lado.
Exame dos Nervos Cranianos
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NC I - Nervo Olfatório:
1) Testa-se a olfação, isoladamente em cada narina (ocluindo a outra), usando aromas conhecidos, como café, tabaco e erva- doce
2) Alterações:
- Anosmia
- Hiposmia
- Parosmia
NC II - Nervo Óptico
1) Acuidade visual:
- Testa a capacidade do paciente de enxergar
- Ex: mostrar os dedos e perguntar: "quantos dedos você vê?"
- Pode usar a Tabela de Snellen
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2) Campo visual:
- Teste por confrontação - paciente e examinador ficam a distância de 1m e então compara-se a visão do examinador com a do paciente, nos quatro quadrantes, com os braços estendidos a meia distância entre eles
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3) Fundoscopia
- Avaliar a presença de edema de papila (sugestivo de hipertensão intracraniana)
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4) Reflexos pupilares (aferência pelo II par)
- Reflexo fotomotor: direto e consensual
- Reflexo de convergência e acomodação das pupilas
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NC III - Nervo Oculomotor
1) Eferência dos reflexos pupilares (aferência pelo II par)
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2) Motricidade extrínseca do globo ocular (juntamente com o IV e VI pares):
- Inerva o reto medial, reto superior, reto inferior e oblíquo inferior (reto lateral e oblíquo superior são invervados pelo abducente e troclear, respectivamente)
3) Elevação da pálpebra superior
- Síndrome do III par (lesão completa do oculomotor):
Midríase
Estrabismo divergente e diplopia
Ptose palpebral
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NC IV - Nervo Troclear
Motricidade extrínseca do globo ocular: inerva o oblíquo superior ("olhar para a ponta do nariz")
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NC V - Nervo Trigêmeo
- Principal nervo sensitivo da face
- Não é exclusivamente sensitivo (possui a função motora da mastigação)
- Aferência do reflexo córneo-palpebral (eferência pelo VII par): testa-se com um chumaço de algodão enconstando na córnea do paciente, provocando o piscar
- Tem três ramificações (devem ser testadas uma a uma):
1) Ramo oftálmico
2) Ramo maxilar
3) Ramo mandibular
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NC VI - Nervo Abducente
Motricidade ocular extrínseca - inerva o reto lateral (responsável pelo movimento de abdução)
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NC VII - Nervo Facial
- Mímica facial
- Não é unicamente motor, possui também função sensitiva: gustação nos 2/3 anteriores da língua
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NC VIII - Nervo Vestíbulo-coclear: possui o componente vestibular e o componente coclear
1) Nervo vestibular: função do equilíbrio (noção da posição da cabeça no espaço)
- Avaliar a presença de nistagmo espontâneo
- Nistagmo provocado (provas calóricas sob o conduto auditivo ou rotatórias principalmente da posição da cabeça do paciente), com o objetivo de avaliar a interação entre o labirinto e o movimento ocular
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2) Nervo coclear - audição (acuidade auditiva)
- Estímulos sonoros junto ao ouvido externo com oclusão do lado não examinado
- Teste de Rinne: aplica-se o diapasão na região mastoide. Quando o paciente deixa de ouvir a vibração, coloca-se o aparelho próximo ao conduto auditivo. Em condições normais, o paciente acusa a percepção do som (Rinne positivo). Transmissão óssea mais prolongada que a aérea (Rinne negativo) significa deficiência auditiva de condução.
- Teste de Weber: o diapasão é batido e a haste do instrumento é colocada no topo do crânio do paciente - em igual distância das orelhas do paciente. O paciente então é questionado a dizer em qual orelha o som é escutado com mais intensidade
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NC IX e X - Nervo Glossofaríngeo e Vago
- São explorados juntos porque, com frequência, inervam as mesmas regiões
1) Glossofaríngeo:
- Função sensitiva da faringe e gustação no 1/3 posterior da língua
2) Vago
- Nervo essencialmente motor (visceral), responsável principalmente pela deglutição e fonação
- Pesquisar disfonias, disfagias, disartrias
- Avaliar qualidade da voz (rouquidão?)
- Elevação do palato (assimetria?): "Diga Ahhh!"
- Lesão unilateral no nervo vago - lado lesado fica baixo e o lado bom sobe = sinal da cortina de Vernet
- Desvio da úvula para o lado oposto
Reflexo nauseoso: testa os dois nervos - aferência pelo Glossofaríngeo e eferência pelo Vago
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NC XI - Nervo Acessório:
Duas funções: elevação do ombro (músculo trapézio) e virar a cabeça de um lado para outro (pelo ECM)
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NC XII - Nervo Hipoglosso:
- Essencialmente motor
- Movimentos da língua
- Avaliar desvios da língua (desvia para o lado lesado - paralisia unilateral do hipoglosso)
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